terça-feira, 8 de outubro de 2013

POR UM BRASIL 2.0





(JB) - No novo marco da internet brasileira e no quadro do enfrentamento da espionagem cibernética norte-americana e de outros países anglo-saxônicos, como se descobriu, agora, no caso do Canadá, é preciso tomar cuidado com o que se está falando, fazendo e propondo.

Se pretende ter papel ativo no estabelecimento de um marco internacional para a internet, o Brasil não pode - por açodamento ou desinformação - adotar ou apresentar propostas inócuas, como a de tornar obrigatória a hospedagem, por empresas internacionais, de dados de cidadãos brasileiros em servidores situados em território nacional.

Estejam onde estiverem, os servidores continuarão a ser operados pelas próprias empresas - a não ser que o governo passe a co-administrar o Google, o Facebook ou a Microsoft no Brasil, o que é tão improvável como ilegal. Se a empresa quiser (ou um diretor seu, ou um simples funcionário) bastará repassar os dados requeridos para governo norte-americano, após recolhê-los em seus servidores instalados em território brasileiro.

Depois, porque esteja dentro ou fora do Brasil, teoricamente qualquer servidor pode ser invadido. Prova disso é que até mesmo servidores do Pentágono e do governo dos EUA já foram “derrubados”, inclusive por hackers brasileiros, que atacaram servidores da NASA (por ter sido – pasmem! - confundida com a NSA) há alguns dias.

Além disso, surgem (e morrem), todos os dias, milhares de empresas na internet, entre elas redes sociais, que, de um jeito ou outro, terão acesso a informações de brasileiros, pessoais ou não, já a partir do cadastro. Como saber se elas têm ou não contato com o governo-norte-americano? Ou se não foram criadas pelas agências de segurança norte-americanas? Como monitorar seu surgimento, e obriga-las a transferir seus servidores para o Brasil?

Construir uma rede de internet, seja ela de âmbito doméstico, corporativo, nacional ou planetário, é, teoricamente, simples.

Com determinação e dinheiro, qualquer nação, ou uma aliança de países, como o BRICS – abordamos a hipótese de uma BRICSNET há alguns dias – pode comprar, ou desenvolver, se tiver tempo, os servidores, backbones, roteadores, cabos de fibra ótica, satélites, antenas, computadores, tablets, iphones, etc, necessários para isso.

Embora o controle físico de uma rede, ou de parte dela –  estamos encomendando satélites, instalando os cabos óticos da UNASUL e discutindo o projeto BRICS Cable – seja importante, ele de nada vai adiantar se não dispusermos de softwares, que sejam também relativamente seguros, para que essa rede, ou sub-rede,  venha a funcionar.

Esses softwares, “open source”, existem. Como possuem código aberto e são aperfeiçoados rotineiramente, de forma voluntária e colaborativa, por gente do mundo inteiro, é mais difícil dotá-los de “armadilhas” e “portas” clandestinas - como ocorre com softwares das grandes empresas de internet, -  para espionar os usuários.

O governo brasileiro já utiliza software livre em programas ligados ao estado. E também softwares desenvolvidos pelo próprio governo. Tem que passar a usá-los, exclusiva e obrigatoriamente, dotando-os de criptografia, nas comunicações oficiais, além de instalar sistemas que bloqueiem a utilização de e-mails, redes sociais e sites particulares a partir de computadores da administração pública.

Mas nada disso vai adiantar se esses softwares não puderem ser multiplicados, disseminados e utilizados, por meio de aplicativos, no dia a dia do cidadão comum, o que nos leva a um fator decisivo - o marketing - que não tem sido tratado, até agora, com a devida importância, nessa discussão.

Cidadãos de todo o mundo não tem seus dados devassados, apenas porque os EUA sejam manipuladores e “malvados”. Eles são espionados porque preferem continuar a sê-lo, a deixar de usar sites como o Google, o Youtube, o Skype,  o Instagram ou o Facebook.

Se essas empresas forem proibidas de atuar no Brasil, os cidadãos brasileiros continuariam a ter – voluntariamente - acesso a elas e aos seus serviços, bastando para isso conectar-se aos seus computadores, situados nos EUA ou em outros países. Isso, a não ser que cidadãos brasileiros fossem censurados e proibidos de fazê-lo, e mesmo assim – nessa hipótese absurda – eles poderiam burlar o governo através de proxys, VPNs, e muito mais.

Como já fizeram antes com o cinema e a televisão, quando se sentam para decidir que roteiro escrever e produzir, na internet - na hora de escolher que startup apoiar, que tipo de aplicação desenvolver, onde instalar um vírus ou um malware - os norte-americanos agem, também, como o personagem do conto de fadas do Flautista de Hamelin.

Desde a mais tenra idade, nossas crianças são fascinadas pelos seus jogos, se comunicam por meio de seus serviços de mensagem, interagem em suas redes sociais, conversam por meio de seus bate-papos e video-chats.

Se – sozinhos ou com o BRICS - não soubermos apostar na educação e inovação, no marketing e no entretenimento, para conquistar a atenção de nossos jovens, a sociedade brasileira continuará a ser espionada - mesmo que a presidente passe a usar o novo emaildos Correios, ou um dia venha a deixar de  "tuitar". 

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:



                                                      

3 comentários:

Apelido disponível: Sala Fério disse...

What if ... (e se) algum país do BRICS for aliado dos EUA e fizer o tal repasse dos nossos dados a eles? Índia e África do Sul, respectivamente as letras I e S da sigla, poderiam fazê-lo em algum momento.

Parana Blogs disse...

Caro Mauro,

Concordamos com seus argumentos não só em teoria, mas principalmente por que defendemos isso na prática.

Há alguns anos debatemos a questão da soberania tecnológica, segurança e liberdade de expressão na era da informática.

Em 2011 o 1º Encontro de Blogueiros Progressistas do Paraná decidiu que deveríamos construir um internet segura, ter nossas redes e nosso software.

Este debate ganhou apoio de outros estados e no 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas realizado em Brasília aprovou-se a criação do Blogoosfero - Plataforma de Comunicação Colaborativa desenvolvida em Softawre Livre Brasileiro.

No 3º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas realizado em Salvador, BA, em maio de 2012, a nova plataforma foi lançada.

Convidamos você a conhecer e participar desta experiência de construção coletiva de conhecimento.

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Sugerimos ainda que veja os seguintes artigos

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Já estamos na prática colaborando com a cosntrução da Soberania Tecnológica Brasileira, inovando e investindo em gente, pois acreditamos que só assim é que termos uma nação rica, livre e independente.

Venha para o Blogoosfero e ajude a divulgar esta plataforma nacional, livre, segura e soberana!

Equipe do Blogoosfero!

Parana Blogs disse...

Concordamos com suas preocupações e gostaríamos de informar que já buscamos solucionar algumas delas na prática.

O convidamos a conhecer o Blogoosfero - Plataforma de Comunicação Colaborativa desenvolvida em software livre brasileiro, uma parceria da comundidade do software livre e da comunidade de blogueiros progressistas.

Lançada em maio de 2012 no 3º Encontro Nacional de Blogueiros, o Blogoosfero tem como princípios a construção coletiva de conhecimento, o desenvolvimento de tecnologias soberanas, segurança e liberdade de expressão.

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Sugerimos a leitura destes dois artigos, entre outros milhares já publicados no Blogoosfero.

http://blogoosfero.cc/ajuda/ajuda/por-que-usar-o-blogoosfero

http://blogoosfero.cc/sergiobertoni/blog-do-bertoni/voce-sabe-quem-invade-seu-computador

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Equipe Blogoosfero

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